Frases, personalidades, filmes, séries e artistas que nos influenciam a não sermos "nós mesmos", como a indústria nos manipula e como os ídolos podem nos inspirar positivamente. Foto: iStock
Quantos "tik tokers" você viu usando o tema do seriado Round 6, da Netflix, em suas postagens?
E o número de famosos (e não famosos) que tentaram replicar as roupas usadas na série nas festas de Halloween, no final do mês passado? Muitos, não é mesmo?
E as vendas do tênis da Vans, que aparece no seriado? Sucesso de vendas, claro. Essa é a cultura pop nos influenciando e ditando regras de comportamento e de moda.
Round 6 é só um exemplo de fenômenos da cultura pop que têm dado o que falar, especialmente nas redes sociais. Mas essa influência não é de hoje. Vale citar que o cinema exerce esse fascínio nas pessoas há muito tempo.
"Nós estamos imersos em cultura pop, todos os dias e desde o momento em que nascemos", diz a psicóloga Daniela de Oliveira.
Antigamente, acreditava-se ser "chique" fumar, já que grande parte dos artistas dos filmes (Clark Gable, em especial), aparecia fumando.
Imitar comportamentos é algo inato, de acordo com Flavia Romano Barbato, psicóloga com experiência em conflitos pessoais. "Se eles [os filmes] tiverem o objetivo de venda ou de mudança comportamental, acaba sendo proposital ainda hoje, pois [a indústria] sabe que alcançou os objetivos iniciais do consumo", diz.
Mas, de acordo com as especialistas, é preciso haver um limite para que essa influência não seja prejudicial. "Quando essa identificação é muito forte, podemos começar a mudar nossos pensamentos, emoções e comportamentos sem ao menos nos dar conta dessas mudanças", diz Daniela.
E é aí que precisamos começar a prestar atenção no nosso comportamento ou de pessoas do nosso convívio, especialmente crianças e jovens. "Quando crianças não sabemos distinguir o que é fantasia e o que é realidade. À medida que envelhecemos, começamos a distinguir melhor uma coisa da outra. Porém, em algumas psicopatologias, essa distinção fica comprometida, principalmente em momentos de crise. Existem inúmeras variáveis que influenciam essa "não-distinção" incluindo uma propensão genética para algumas dessas psicopatologias. E, quando isso é influenciado por games e filmes, é um sinal de crise", explica Flavia.
As especialistas também alertam para o fato de um jovem passar muito tempo no videogame, em detrimento de outras atividades, o que pode ser bastante prejudicial para o seu desenvolvimento.
"A performance acadêmica é afetada em adolescentes que jogam três horas ou mais por dia, aumentando também a tendência desses adolescentes serem mais hiperativos e mostrarem problemas de comportamentos em comparação com adolescentes que jogam menos de uma hora por dia. Acredito, nesses casos, em um bom conselho de avôs e avós: "nem oito nem oitenta" ou "tudo o que é demais é prejudicial", completa.
Ayrton Senna, mais que um ídolo, um incentivador
Para além das influências de consumo e comportamento negativas da cultura pop e de astros, ídolos também conseguem inspirar positivamente, como a mudança de comportamento ou perspectiva. "É importante diferenciar a experiência de ser tomado por um personagem, da experiência de ter uma perspectiva diferente", diz a psicóloga Daniela de Oliveira.
Ter uma perspectiva diferente foi um dos motivos pelos quais a consultora Ana Bracarense resolveu se inspirar em um dos maiores ídolos brasileiros do esporte, o piloto Ayrton Senna, que morreu em 1994, em um acidente enquanto pilotava na Itália.
Ela nos conta que, desde muito cedo, foi inspirada pelo comportamento e frases de Senna.
"Eu sofri um acidente na cabeça também (igual ao do Ayrton, perfurando a cabeça) quando eu tinha somente 1 ano e 4 meses. Eu tinha 0,0000000000000000000000001% de chance de sobreviver. Quando eu acordei, movimentando somente o lado esquerdo e ainda tendo que fazer uma traqueo [procedimento que a ajudava a respirar] fui colocada na frente da TV e comecei a assistir bem o início da carreira do Ayrton", diz.
Com o tempo, passando a entender melhor as entrevistas do piloto, Ana começou a prestar atenção nas frases e uma, em especial, a impactou profundamente "Seja você quem for, seja qual for a posição social que você tenha na vida, a mais alta ou a mais baixa, tenha sempre como meta muita força, muita determinação e sempre faça tudo com muito amor e com muita fé em Deus, que um dia você chega lá. De alguma maneira você chega lá".
"Depois que eu ouvi essa frase, eu passei a ver a vida somente com lado positivo e que eu ia conseguir'", relembra.
Outra inspiração que o ídolo Ayrton Senna deixou foi quando, em 2011, ela foi fazer aulas de volante, desafiantes para pessoas com deficiência que precisam fazer uma série de adaptações no carro. Para tranquilizar Ana, o instrutor a levou, com o carro dela, a uma pista de kart, para que ela aprendesse o básico e tivesse menos medo da direção.
"Na hora em que chegamos na pista, ele virou e falou: 'entra primeiro nesse estacionamento que eu quero te ensinar a acelerar, depois vamos para a pista”. Eu olhei bem para ele, morrendo de medo, e falei: 'acelerar só até 100 km/h né?'. Ele falou: 'confia em mim'. Bom, eu comecei com 40 km/h e ele pedindo para eu acelerar mais, fui a 60, 80, 100, 110 e de repente ele falou: 'você está dirigindo? Não estou sentindo. Vai um pouco mais'. Cheguei a fazer 120 km/h na minha primeira aula de direção", relembra.
Pronta para ir às aulas de direção, Ana e o instrutor foram, finalmente, para a pista de kart. "Ele falou: 'agora você vai voltar do mesmo jeito que você veio, só que você já vai entrar com tudo na pista de kart. Olha o Ayrton lá no início de esperando. Ultrapasse ele, Ana'”, conta aos risos.
"Foram 6 aulas assim dirigindo numa pista de kart, acelerando e pisando fundo igual Ayrton.
Somente depois deu ter o controle do volante e controle do freio com acelerador, é que meu instrutor me levou para a cidade, no trânsito 'infernal', mas eu já estava mais tranquila, relembra"
Hoje, a jovem é consultora contribui para que os PcDs tenham mais oportunidades no mercado de trabalho "Busco criar um elo entre empresas e profissionais PcDs, criando relações que agreguem qualidade de vida para pessoas e geração de valor para empresa". E ela deve boa parte dessa determinação ao ídolo.
"Tudo o que eu quero eu posso, basta eu mesma acreditar em mim, mais ninguém", e completa. "E estou conseguindo hoje, com minha empresa, conscientizando as pessoas com
palestras e entrevistas sobre minha superação", finaliza.