Banda inova na sonoridade, mas mantém a essência e o peso. Foto: Divulgação.
Quem acompanha o Cultura Sem Censura já sabe que o Black Pantera é, atualmente, a banda preferida da casa.
Os caras são um sopro de novidade no rock nacional já há algum tempo, e eles acabam de lançar Perpétuo, o quarto álbum (sem contar Griô, do ano passado, todo em inglês) que mostra inovações na sonoridade, mas mantém a essência nas letras politizadas e o peso característico.
Provérbios, primeira faixa e single de trabalho, é construída em cima de vários ditados populares (e com as referências à cultura pop que a gente tanto gosta), a música explode em um refrão poderoso, perfeita para abrir o disco.
Seguimos como Perpétuo, faixa-título, que traz a novidade (já mostrada no single Tradução) do vocal de Chaene da Gama, baixista do trio. "Todo mundo já foi preto um dia", começa a música. Um punk clássico e com uma letra forte, calcada no pedido de reconhecimento da cultura preta.
Boom! é a clássica canção do Black Pantera: rápida, pesada e perfeita pra cair na roda punk nos shows da nova turnê.
A fantástica Tradução, escrita por Chaene em homenagem à Dona Guiomar, sua mãe e de Charles da Gama (guitarra/vocal), e Dona Elvira, mãe do Rodrigo Pancho (bateria) tem citaçao à Mano Brown e um das letras mais bonitas que os caras já fizeram. Emocionante é pouco.
Fudeu inicia com o groove característico dos caras, no melhor estilo Red Hot Chilli Pepers, mas vira um hardcore no refrão. A letra, com citação a Sabotage, mostra a triste realidade dos pretos de todo o Brasil.
Aliás, como não podia ser diferente, a temática antirracista e o chamado à ancestralidade preta dá o tom no disco. "A gente vem pensando bastante sobre esse tema, sobre como acabamos sendo eternos através de nosso sangue, nossa luta, nossa ancestralidade. São músicas que refletem isso de maneira incisiva, essa ideia de legado de todos nós. E, se você pensar, daqui 50 anos a banda pode até acabar, mas as músicas vão continuar existindo”, comenta Chaene, em comunicado à imprensa.
Promissória, inclusive, "cobra" de todos nós (especialmente os brancos) as contas de séculos de exploração do povo preto. Mais uma novação: percussão forte e uma pegada de baião na faixa. Aliás, o disco todo, pra mim, tem uma pegada de - ótima - mistura com a diversos estilos da música brasileira - evidenciada ainda mais em Candeia (mais uma com Chaene no vocal ) - que, em certos trechos, lembra demais a fase do Roots, do Sepultura, e tem pitdas de Nação Zumbi, além de mostrar toda a versatilidade de Pancho nas baquetas.
A faixa seguinte é Black Book Club, mais uma a falar das dificuldades do povo preto, em mais uma clara referência aos Panteras Negras (que é evidenciada na capa do álbum inclusive).
Mas, Anderson, e o peso? Claro que as porradas clássicas da banda estão lá e Sem Anistia - com 1 minuto e 19 segundos - é mais uma perfeita pra bater cabeça.
Mahoraga é mais uma referência à cultura pop, com o título fazendo referência ao anime Jujutsu Kaisen. A letra fala sobre a futilidade da busca pela fama em tempos de redes sociais. Rockão clássico e bem feito.
Mete Marcha, mais uma cheia de percussão, traz um pouco do baião no início, mas é um hardcore muito bem feito e com um refrão bom demais pra cantar.
Perpétuo chega ao fim com A Horda (que me lembrou demais o começo de Whiplash, do Metallica), mais um petardo dos caras e com viradas sensacionais de Pancho na bateria e os guturais do Charles.
Ao final dos poucos - mas fantásticos - 39 minutos do álbum (produzido por Rafael Ramos e lançado pela Deck, fica evidente a evolução musical do Black Pantera, ainda que sem deixar de lado a essência no peso e nas letras que nos fazem refletir. Mais um baita disco dos caras, mostrando a importância deles para o rock nacional.
Abaixo, o clipe de Tradução.