Entrevista: Anderson Estevan e seus Oito contos enjaulados

 
Autor já prepara novo livro e fala do momento enjaulado em que o Brasil se encontra. Foto: Divulgação.

Na semana passada, contei um pouco sobre o lançamento do livro Oito Contos Enjaulados (Confraria do Vento, 2021), do amigo Anderson Estevan.

Por achar a obra bem interessante, conversei, por e-mail (a gente tem outras "obras" e a ômicron ainda impede uma conversa no boteco), com o cara para entender como foi a construção do livro, as dificuldades de lançamento e como ele enxerga o contexto do Brasil na atualidade. Vale a leitura!

Como surgiu a ideia e como foi a construção do Oito Contos Enjaulados? A pandemia impactou, de alguma forma, certamente, mas, dá pra mensurar esse impacto?

Essa ideia que permeia o livro, que é a questão dessas jaulas invisíveis, de como todos acabamos presos à condição humana, surgiu quando estava fazendo a oficina do CLIPE, em 2018. Como "conclusão" do curso, imaginei um livro de contos justamente com essa ideia. Naquela época, Eu já tinha alguns contos do livro escritos e outros imaginados. As coisas foram crescendo e logo os oito contos foram se sobrepondo aos outros que escrevi e joguei fora. 

Nesse percurso, a pandemia e outros momentos igualmente angustiantes trouxeram um novo peso e significados para as histórias. Não diria que influenciaram as decisões das histórias e os rumos dos personagens, mas que os resquícios da pandemia estão lá, ah se estão. 

Senti um pouco de influência de Bukowski no primeiro conto (um quê de Mutarelli também), Homenzinho Dançarino. Quais foram as suas inspirações literárias para esse seu segundo livro?

Olha, eu nunca havia parado para pensar nesses autores como referências para esse conto. Talvez de maneira inconsciente, principalmente o Mutarelli, acho. Esse conto surgiu como uma reação a um bloqueio criativo que tive no início do processo, e de como os sons e distrações da cidade tornam esse processo ainda pior. Acho que essa foi a fagulha, o primeiro movimento para que esse conto transbordasse para o real. Daí pra frente é história.  

Grande parte dos autores usam algumas referências pessoais para construir a obra. Você usou ou tudo é ficção? Aliás, Soldadinhos de Chumbo me remeteu a minha infância na Praia Grande também [quer entender a referência? leia o livro!

Acho que uma das minhas grandes piras com a literatura é ter um espaço que qualquer coisa possa acontecer. Isso quer dizer, na real, que penso em um "lugar" totalmente ficcional. Esse livro tenta justamente esse exercício, mas falha miseravelmente. Não apenas nesse conto, mas em outros também, o mundo totalmente de ficção esconde camadas e camadas de realidade escondida. 

Quais foram as dificuldades que você enfrentou para lançar o livro?

O Brasil não é um país de leitores. Essa frase-chavão é o que torna tudo ainda mais difícil. Fazer literatura e transbordar esse objeto-livro para a realidade são coisas de maluco. Tem que ser muito doido para viabilizar isso. Escrever no Brasil é uma causa perdida. Mas a gente segue, e nada muda. 

Pra você, o Brasil é um país "enjaulado"? Por quê?

Sem dúvida. Estamos todos enjaulados, presos a uma realidade absurda, non sense mesmo, e todo mundo segue vivendo como se estivesse tudo bem. Isso me assusta demais. E também me decepciona. Não imaginei que o meu mundo distorcido estivesse tão colado na realidade objetiva. 

Quais são os planos pro futuro, algum novo trabalho em mente?

Eu já estou escrevendo um novo livro de contos, que deve manter muitas coisas do que trouxe nos Oito Contos, mas também acrescentando coisas da minha infância. A ideia é a nostalgia e a morte caminhando de mãos dadas.

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