Opinião: HQ Santelmo Enfeitiçado exalta a cultura mineira


Trabalho de Fabiano Azevedo, Erick Azevedo e Piero Bagnariol explora as belezas de Minas Gerais. Foto: Divulgação.

Por Larissa Dias*

Comprar HQs nacionais e de autores independentes me deixa muito, mas muito feliz. Quando a HQ é incrível, a felicidade é maior ainda! Muitos brasileiros tendem a valorizar a cultura de outros povos e muitas vezes se esquecem de explorar a riqueza que nosso País tem. Em Santelmo Enfeitiçado, é justamente isso que Fabiano Azevedo faz ao exaltar a cultura de Minas Gerais!

Santelmo é um senhor misterioso e místico, que vive em uma cidade pequena no interior de Minas e que descobre, por acaso, que foi enfeitiçado com magia da “brava”. Então, ele parte da sua cidade em busca de uma certa planta que é a única capaz de curar o mal causado pelo feitiço.

A HQ traz logo na capa uma cova aberta, mostrando que Santelmo pretende lutar em sua jornada pela própria vida. Mas enquanto ele caminha em suas andanças, vamos percebendo que é um homem estudado nos conhecimentos do mundo e nos conhecimentos sagrados e que aprendeu com a mãe a tradição de curar. Como curandeiro, salvou muitas vidas, inclusive de nobres que nem lembram hoje quem é o humilde homem que carrega o cajado.

Junto com seu cachorro, o Muleto, Santelmo parte para muitas aventuras que envolvem espíritos, as paisagens incríveis das cidades mineiras, questões familiares, relatos de um momento de libertação dos negros e até mesmo a descoberta de parentes que ele nem sabia que existiam. 

Mas, falando um pouco mais de Muleto: eita cachorro simpático! A gente se apega tanto a ele que acaba torcendo por Muleto em vários momentos, até entender quem é Santelmo e começar também a torcer por ele.

A HQ traz a valorização aos saberes ancestrais dos raizeiros, a valorização da vida simples e também dos conhecimentos sagrados que os antigos curandeiros se tornaram guardiões. Observamos, fora do âmbito profissional, um movimento feminino intenso no sentido desta valorização dos antigos saberes das raizeiras, parteiras, doulas, etc. mas é muito bom ver um personagem masculino que carrega esses conhecimentos em sua jornada, pois creio que isso sempre ajuda a eliminar essas divisões de gêneros nos caminhos da proteção do nosso patrimônio imaterial.

Se Santelmo vai ou não vai conseguir se curar desta terrível maldição e o que ela causa nele, deixarei para vocês descobrirem através dos desenhos deslumbrantes, extremamente fiéis e impregnados de um certo misticismo de Piero Bagnariol, além do traço forte, obscuro e preciso, que te faz pensar, de Erick Azevedo. 

Boa viagem pelas terras queridas da nossa Minas Gerais

*Larissa Dias é Psicoterapeuta e Orientadora profissional, escritora e mitóloga. É colunista no CSC.