Crítica: Metallica no Brasil


O Metallica, de James Hetfield e Robert Trujillo, faz apresentação memorável.
Foto: Dionisius Amendola .


Dez anos, oito meses e vinte e dois dias. Esse foi o tempo que o Metallica ficou sem se apresentar em São Paulo. Mas, com a disposição demonstrada pelos caras no último sábado, 30 de janeiro, o público presente no estádio do Morumbi esqueceu essa longa espera.

O show da banda estadunidense formada por James Hetfield (guitarra e vocal), Lars Ulrich (bateria), Kirk Hammett (guitarra) e Robert Trujillo (baixo) reitera o que alguns já sabem: O Metallica ao vivo, quando quer, é imbatível.

Para aquecer a galera, o show de abertura, a exemplo de 1999, foi do Sepultura. A apresentação de Andreas Kisser e cia. não foi prejudicada pelo som baixo como naquele ano. O bateirista Jean Dolabella é competente e leva com firmeza a "cozinha" em companhia do baixista Paulo Jr.

Derrick Green faz juz ao apelido e realmente é um "predador". Andreas é sem dúvida um dos maiores guitarristas do País. O ponto negativo ficou por conta da escolha de algumas músicas para a apresentação.

As canções do cd "A-Lex" pra mim são chatas (o que pode explicar minha falta de atenção ao show) e só os clássicos como "Refuse/Resist" e "Roots Blood Roots"  me  empolgaram. Enfim, foi um bom show, mas o melhor (e eu tinha ido lá para isso) estava por vir.

Apesar de estar distante do palco montado no  gramado do Morumbi (estava na arquibancada), tínhamos (eu e meu irmão) uma boa visão. Quando as luzes se apagaram, por volta das 21:35, "The Ecstasy of Gold" surgiu e o estádio urrava loucamente.

Há relatos de quem estava na pista que um trecho da música "Heavy Metal Thunder" do Saxon também pôde ser ouvida na introdução do show. Eu não ouvi. O Metallica, enfim, subia ao palco do Morumbi para lavar a alma de mais de 60 mil pessoas presentes no local (ao contrário do que li, não estava lotado).

"Creeping Death" entrou violentamente em nossos ouvidos seguida por "For Whom The Bell Tolls" - cantada a plenos pulmões por este blogueiro. Aí, James Hetfield disse: "We are 'The Four Horsemen' São Paulo!". E a faixa do álbum (e não da música, viu Paulo Ricardo*!) "Kill´em All é executada em alto e bom som.

O vocalista brincou muito com a plateia (diferentemente de 1999) e gritava "São Pauloooo!" a todo o momento. Robert Trujillo pulava e girava feito um monstro, parecendo divertir-se (a banda toda parecia curtir) enquanto tocava magistralmente.

Kirk Hammett, sem firulas, mostra que a cada ano melhora como músico. Lars Ulrich é um dinamarquês baixinho, com cara de folgado, mas que soca a bateria com uma paixão incrível!

"Harvester of Sorrow" foi a primeira surpresa da noite e ao vivo soa poderosa. E eis que surge o violão elétrico de Hetfield no palco. "Nothing Else Matters, já?", pensei. Ledo engano. "Fade to Black" vem para me levar as lágrimas (sorry, mas é minha música favorita) e fazer o público do Morumbi acender isqueiros.

Isso mesmo, eles realmente tocaram TRÊS faixas do "Ride The Lightining" quase na sequência. Simplesmente maravilhoso. Como a turnê é baseada no álbum "Death Magnetic", "That Was Just Your Life" inaugura a parte dos novos sons.

Antes da faixa tocar, ouvimos ao fundo uma batida de coração confirmando o óbvio: o Metallica está vivo e respirando muito bem! “The Day That Never Comes”, primeiro single do cd mais novo da banda, lançado em 2008, foi uma das mais cantadas pelo público presente e era notório (mesmo de longe) a satisfação dos músicos no palco.

Sad But True”, do hoje clássico ‘álbum preto’, foi dedicada ao Sepultura. Um pedido de desculpas pelo corte no som dos brazucas em 1999? “Broken, Beat and Scarred”, uma das minhas músicas favoritas de “Death Magnetic”, foi dedicada as vozes que entoavam que “o que não me mata, me torna mais forte”, evocando, na minha interpretação, a fase turbulenta dos caras no início da década.

Fogo, barulhos de tiros e vozes anunciavam “One”, talvez a grande canção sobre os horrores da guerra.
Master of Puppets” é outro clássico absoluto entoado com força por mais de 60 mil vozes.  E outra surpresa aparecia no selist: “Blackened” que fez, mais uma vez, este blogueiro cantar feito criança.

Claro que, mesmo curtindo cada segundo, estávamos cansados e precisávamos de “Nothing Else Matters” para relaxar. Mas o Metallica é pesado e nada melhor do que voltar a carga com “Enter Sandman”, não é mesmo? E que fantástica aquela palheta do James Hetfield, hein (o autor da foto do post pegou. Inveja!)?

Era a hora de fazer uma breve pausa. Será que durou 5 minutos? Talvez nem isso. Como eu sei o que vai rolar a cada apresentação, digo ao meu irmão: “Agora é a hora do cover!” E era mesmo. Torci para ser “Whiskey in The Jar” do Thin Lizzy, mas não me decepcionei ao ouvir Hetfield dizendo que a banda homenageada aquela noite seria o Queen. “Stone Cold Crazy, you know!"

Quando os riffs de "Motorbreath" ecoaram pelos falantes, quem quase chorou foi meu irmão: “Caralho, eles vão tocar a música que me fez gostar deles!!” A noite era relamente nossa, cara! “Seek & Destroy” veio para encerrar e coroar uma noite perfeita (sem chuva e uma puta lua cheia sob nossas cabeças) com tiozinhos e moleques delirando.

Obrigado, Metallica!

Setlist:

CREEPING DEATH
FOR WHOM THE BELL TOLLS
THE FOUR HORSEMEN
HARVESTER OF SORROW
FADE TO BLACK
THAT WAS JUST YOUR LIFE
THE END OF THE LINE
THE DAY THAT NEVER COMES
SAD BUT TRUE
BROKEN, BEAT AND SCARRED
ONE
MASTER OF PUPPETS
BLACKENED
NOTHING ELSE MATTERS
ENTER SANDMAN

Bis:
STONE COLD CRAZY (Queen cover)
MOTORBREATH
SEEK AND DESTROY
*Paulo Ricardo (aquele mesmo) em artigo para a Folha de S. Paulo (disponível para assinantes) de segunda, 1° de fevereiro. Cheio de citações filosóficas para parecer intelectual, o texto dizia, entre outras coisas, que o Metallica tinha músicas como "Kill ´Em All". O que o cantor escreveu, até cometer essa gafe, era interessante. Depois disso, parei de ler.