Independência ou morte?*


Para artistas, internet é essencial na divulgação de música independente. Foto: Unsplash

Todo banda independente de hoje sabe a importância que a internet tem para a divulgação de seu trabalho. Myspace, Youtube, Blogs - e mais recentemente o Twitter - são importantes ferramentas para que os músicos consigam atingir seus objetivos: tocar para um público cada vez maior e ter suas canções nas paradas de sucesso.

Para os paulistanos do Bresser, a rede mundial de computadores ajuda no surgimento e, depois, na consolidação de novos músicos. “Eu acredito que a quantidade de bandas de rock que surgiu nos anos 2000 com a ajuda da internet contribuiu para o avanço e a consolidação de outras bandas que surgiram depois”, diz Felippe Toloi, tecladista e vocalista do grupo, em entrevista concedida em 2009.

O quarteto, que conta ainda com Fábio Vanzo (guitarra/voz), Hiran Murbach (baixo), Mariel Moura (bateria), está na ativa desde 2005 tocando em bares da cena undergruond paulistana. “O Bresser surgiu, como a maioria das bandas, tocando covers de artista que sempre ouvimos, como Bush, Smashing Pumpkins e Oasis. A partir de um certo momento, resolvemos direcionar as nossas músicas para um trabalho autoral”, explica Toloi.

Com um repertório de músicas próprias, fica mais fácil arrumar lugar para tocar, certo? Errado. O vocalista diz que ainda é difícil encontrar casas de shows que convidem bandas de rock para tocar - especialmente as menos conhecidas. “Acho que, no Brasil, o samba, o axé e o funk carioca são produtos da massificação da música popular. O rock sempre teve pouco espaço pra mostrar músicas autorais e trabalhos originais”, lamenta o vocalista.

E o que fazer, desistir? Felippe Toloi é categórico e diz que apesar das dificuldades, ainda vale a pena fazer música independente. “A música funciona como uma ‘terapia’. Você expressa suas particularidades. Independente das dificuldades que o Bresser enfrenta, a música é um jeito que temos para mostrar a nossa visão de como as coisas são. E quando alguém conhece e gosta do nosso trabalho, faz valer à pena”, comemora o vocalista e tecladista.

A banda já é bem conceituada no underground paulistano e lançou, de forma independente, um EP com 8 faixas, além de participar de festas com outros grupos alternativos em tradicionais casas do gênero como a Outs, na Rua Augusta.

Veneno independente

Baba de Cobra. Esse é o nome de outra banda independente que tem São Paulo como base. Mas, que nome é esse? "O nome da banda veio da música homônima do Marcos (Duprá, vocalista e tecladista) que é uma expressão popular para se referir a uma pessoa venenosa”, explica o guitarrista Fernando Hipólide, em entrevista concedida em 2010.

O quinteto foi formado em 2006 por Duprá (vocal e teclado), Hipólide (guitarra), André Pedrão (baixo), Marcelo Adrio (bateria) e Ricardo Bueno (percussão), todos com passagens por outros grupos independentes.

Com influências que vão dos Mutantes ao rock inglês, a banda lançou no ano passado "Olho Virado", gravado no estúdio do baterista Marcelo e produzido por eles próprios. “O caminho para os independentes é esse: ‘Faça e distribua você mesmo’”, diz o vocalista Marcos Duprá.

No disco, a banda tem a participação do vocalista das Velhas Virgens, Paulão, uma espécie de “papa” dos músicos independentes. “Ele participa na faixa ‘Muda’. A música precisava de uma pegada mais roqueira, e ele [Paulão] enriqueceu o CD com o que faz de melhor. Foi uma grande satisfação poder contar com ele nesse trabalho.", lembra Fernando.

Mesmo como o “apadrinhamento” das Velhas Virgens, o cenário underground ainda é muito fechado e o Baba de Cobra sofre com a falta de espaço para divulgação do seu trabalho. "Falta apoio como casas e espaços alternativos e a não remuneração [desanima]. Muitas vezes 'pagamos' para tocar", lamenta Pedrão.

Mas a internet acaba fazendo o trabalho que algumas rádios faziam há algum tempo. "Há 20 anos, quando montamos nossa primeira banda, gravamos uma demo maravilhosa e ela 'morreu' conosco. Hoje, com a internet, você coloca o som da sua banda e as pessoas ouvem seu trabalho", diz o vocalista Marcos.

Outro aspecto ruim para bandas do cenário "não-comercial" é que os integrantes não conseguem "viver" de música, situação que mudaria caso o Baba de Cobra assinasse com uma gravadora. "Se uma gravadora estiver disposta a investir no som que estamos fazendo, então será um prazer trabalharmos juntos. Se quiserem impor condições ridículas como alterar a proposta que temos, não [assinaremos]", finaliza o vocalista Marcos Duprá.

Vilã?

Embora a maioria das bandas acredite que a internet ajude na divulgação, alguns produtores independentes veem a rede mundial de computadores com restrição. É o caso do ex-radialista e especialista em produção de conteúdos multimídia, Roberto Maia. Para ele, a internet deixou de ser novidade e hoje é muito difícil alguém procurar novidades sozinhos no Myspace, por exemplo. “Divulgar é fácil, difícil é dar credibilidade e popularidade a uma banda”, diz. Maia acredita que o caminho para um músico independente atingir a popularidade sonhada não mudou. “O processo continua o mesmo de sempre: Grave uma demo e tente um contrato com uma gravadora”, completa.

Uma coisa é certa: para o bem ou para o “mal”, a internet revolucionou o modo de divulgação dos artistas no mundo todo. Resta apenas achar um meio termo para que a rede mundial de computadores não passe de heroína a vilã da música independente.

* Texto retirado de um trabalho da faculdade.