Documentário da Netflix mostra as duas faces do médium com precisão, dando voz às mulheres que sofreram abuso. Foto: Divulgação.
A fé move montanhas, diz o ditado. E alguns, sabendo disso, se aproveitam da fé e exploram, seja financeira ou sexualmente.
Esse é o caso de João Teixeira de Faria, que ganhou a alcunha de "João de Deus" por conseguir "curas" milagrosas em Abadiânia, interior de Goiás - mas que também foi denunciado por abuso sexual por milhares de mulheres.
Explorando essas duas faces de Faria, "Cura e Crime", documentário que estreou no final de agosto na Netflix, parte do ponto de vista de algumas das vítimas, que ganham voz e rosto - numa atitude corajosa - mostrando as consequências dos abusos em suas vidas.
Mauricio Dias e Tatiana Vilela dirigem o documentário, que traz cenas detalhando os processos de "cura" do médium, bem como as visitas de famosos - como Oprah Winfrey - que se encantaram com os vários "milagres" de Faria.
O documentário traz, também, depoimentos de funcionários e ex-funcionários da Casa Dom Inácio, que contam o que vivenciaram nos anos em trabalharam na casa. Mas o depoimento mais impactante, sem dúvida, é o da filha mais velha de João, Dalva Teixeira de Sousa, que teria sido a primeira vítima dos abusos.
Com detalhes ricos de quem realmente era João Teixeira de Faria (um verdadeiro gangster), "Cura e Crime" só peca por não aprofundar-se na relação do médium com o espiritismo (o que pensa a Federação espírita? Como era a relação de João com as esposas? Elas não quiseram falar?), nem sequer traz a opinião de outros médiuns sobre a conduta - por muitas vezes - duvidosa de Faria.
Em quatro episódios, o documentário consegue nos prender e envolver com maestria, fechando o ato com uma entrevista de Faria - que estava em prisão domiciliar - que ainda nega as acusações, repetindo que, apesar de ser inocente "vai respeitar às leis dos homens, mas confia na lei de Deus".
Abaixo, o trailer de "João de Deus - Cura e Crime".