Poucas palavras carregam tanta bagagem quanto emo. Muito antes do Orkut, das franjas e das fotos de perfil em preto e branco, emo era um apelido quase pejorativo criado pela imprensa de Washington D.C., nos Estados Unidos, em meados dos anos 1980.
A cena hardcore da cidade fervia, cheia de raiva política e guitarras rápidas. Mas algumas bandas começaram a expor o lado íntimo da experiência — dores pessoais, letras confessionais, vulnerabilidades. O resultado? A crítica os chamou de emotional hardcore, logo abreviado para emocore.
A Thrasher Magazine (1985) escreveu sobre o Rites of Spring com esse rótulo e o Washington Post (1986) reforçou a etiqueta ao falar do circuito da época, citando também a banda Embrace, de Ian MacKaye (Minor Threat, Fugazi). O curioso é que nenhum dos músicos queria ser chamado de “emo”. Mas é aquela história: um apelido sempre pega se você se irrita, com ele, não é mesmo?
Se nos anos 1980 o termo nasceu como rótulo incômodo e nos 1990 circulou em nichos alternativos, foi nos anos 2000 que o emo alcançou status global. A MTV, revistas adolescentes e o início das redes sociais ajudaram a transformar o gênero em fenômeno cultural.
Bandas como My Chemical Romance (“Helena”, “I’m Not Okay”), Fall Out Boy (“Sugar, We’re Goin Down”), Paramore (“Misery Business”), Panic! At The Disco (“I Write Sins Not Tragedies”), Simple Plan (“Welcome to My Life”) e The Used (“The Taste of Ink”) se tornaram símbolos de uma geração que vestia preto, escrevia letras confessionais em cadernos e fazia das músicas um espaço de identidade. Foi também a fase em que o visual — franjas, maquiagem borrada e roupas justas — ganhou tanta importância quanto os riffs de guitarra.
O emo no Brasil: a geração Orkut e MTV
No Brasil, o emo desembarcou com cara de mainstream adolescente. Entre 2005 e 2010, era impossível passar ileso: estava na revista Capricho, nos programas da MTV Brasil, nos debates escolares e, claro, nas comunidades do Orkut (saudades, inclusive).
Bandas como NX Zero (“Razões e Emoções”), Fresno (“Quebre as Correntes”), Glória (“Minha Paz”) e até o fenômeno colorido do Restart (“Levo Comigo”) viraram sinônimo de uma geração que viveu entre o CD e o MySpace, entre o caderno rabiscado e o Fotolog.
Ser emo era mais do que música: era se sentir parte de algo, mesmo que isso significasse ser alvo de olhares tortos na rua.
O revival: da memória ao palco
O tempo passou, mas a memória ficou. Hoje, o emo reaparece com outro peso: o da nostalgia. O exemplo mais forte é a I Wanna Be Tour, que se transformou em um verdadeiro encontro geracional. Desde a estreia em 2023, que trouxe NX Zero, Fresno, Glória, Dance of Days e Di Ferrero em carreira solo, passando pela edição de 2024 com Simple Plan, The Used, A Day To Remember, além de NX Zero, Fresno, Glória, Pitty e Detonautas, até chegar em 2025, edição que reuniu Fall Out Boy, Good Charlotte), Yellowcard, Story Of The Year, entre outros, o festival consolidou-se como uma celebração de uma cultura que atravessa gerações.
O que começou como reencontro de uma cena virou celebração de uma cultura. Um rótulo que nasceu quase como xingamento hoje é bandeira de pertencimento, e não só uma "fase", pelo menos não aqui no Brasil, já que continua sendo reinventado, e lotando estádios, geração após geração.
Apesar de o nome ter surgindo com o Embrace, a banda quase nada tinha do que temos hoje no meio. Compare as músicas abaixo e me diga: era emo?