Jornalista e escritor, que está lançando Samba do Sétimo Dia, escolheu as obras que mais o impactaram em sua vida. Foto: Divulgação.
A seção Essenciais tem um convidado especial: Anderson Estevan, parça da comunicação que também é um escritor de mão cheia! O jornalista e escritor selecionou 5 obras que o inspiraram em sua vida e o moldaram ao longo dos anos.
O cara está lançando seu novo livro de contos, Samba do Sétimo Dia (Editoria, 2025), que traz histórias de personagens inspirados por suas vivências e lembranças da periferia de São Paulo nos anos 1990 (imagino o quanto de riqueza devem ter essas histórias - assim que tiver o meu em mãos, volto aqui pra contar!)
"Quando me perguntam sobre os livros que definiram minha trajetória, algumas obras se destacam não apenas como leituras, mas como verdadeiros pontos de virada. Cada uma delas chegou em um momento específico, ensinando-me algo novo sobre o poder da palavra e a complexidade da vida".
Confira a lista "braba" do parceiro.
A Metamorfose - Franz Kafka (1915)
Tudo começou, de verdade, com 'A Metamorfose' de Franz Kafka. Foi aquele o livro que despertou em mim o desejo visceral de não apenas ler, mas de escrever incessantemente. A experiência de sentir na pele o martírio de Gregor Samsa, sua transformação em um inseto monstruoso, foi um impacto que reverbera até hoje. É uma obra curta, mas que, de maneira paradoxalmente simples, me apresentou a profundidade abissal que a literatura poderia alcançar e me marcou para sempre.
Os Detetives Selvagens - Roberto Bolaño (1998)
Depois dessa epifania inicial, já um pouco mais versado na literatura latino-americana, encontrei 'Os Detetives Selvagens' de Roberto Bolaño. Aquilo foi uma revolução na minha forma de entender a narrativa. Bolaño me mostrou que era possível expandir as fronteiras de como contar uma história, criando meta-histórias dentro de outras. Acompanhar a busca daqueles jovens poetas por liberdade e por um poema misterioso foi uma experiência que selou a obra como, sem dúvida, um dos livros da minha vida.
Cem Anos de SOlidão - Gabriel García Márquez (1967)
E falando em literatura latino-americana, é impossível não mencionar 'Cem Anos de Solidão'. A saga da família Buendía, com sua estrutura elíptica e genial, transita permanentemente em qualquer lista que eu faça sobre os maiores livros já escritos. Para mim, as reviravoltas, as imagens fantásticas e as linhas narrativas tão perfeitamente construídas por Gabriel García Márquez ressoam até hoje como o mais autêntico e poderoso relato sobre a alma e a história da nossa América Latina.
As Coisas que Perdemos no Fogo - Mariana Enriquez (2016)
Trazendo para um olhar mais contemporâneo, e pensando na arte do conto, 'As Coisas que Perdemos no Fogo' de Mariana Enriquez foi uma verdadeira aula. A literatura dela possui um cuidado absurdo com a construção de personagens, enredos e, acima de tudo, com uma inventividade que assombra. Enriquez é uma mestra em nos envolver em sua teia de horror social e fantástico, da qual só conseguimos escapar na última página. É um 'livraço' que serve como uma lição para qualquer aspirante a contista.
Os Malaquias - Andréa del Fuego (2010)
Por fim, gostaria de citar uma obra nacional que foi uma leitura definidora: 'Os Malaquias', de Andréa del Fuego. É uma joia tecida com uma prosa que flerta com o realismo mágico e a poesia do cotidiano. A força do livro está na forma delicada e brutal como explora a orfandade e a memória. Para mim, foi uma leitura que transformou minha percepção sobre como a linguagem pode criar universos onde a dor e o maravilhamento coexistem, ensinando-me sobre a resiliência do silêncio e a força dos mitos que criamos para dar sentido às nossas próprias histórias.