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Lançar um livro no Brasil de hoje está cada vez mais difícil, como você pode ler nessa matéria do site Lado B.
Quando tomamos conhecimento de que uma obra foi lançada, é motivo para celebrarmos - ainda mais se for o livro de uma amiga, como é caso da Larissa Dias.
A música do universo - Uma jornada mítica, musical e psicológica (Editora Scientia, 206 páginas), é escrito pela Larissa, em parceria com a Angela Ribeiro e Érica Hotts.
O livro conta a história de Ângelo, personagem criado pela Larissa para um conto que escreveu no início deste ano. Ao chegar na metade da sua vida, o homem se depara com uma grande crise existencial, pela qual todos nós passamos ou vamos passar: qual o objetivo da nossa vida?
"Essa pergunta gera muita angústia e desespero", conta Larissa. Então, em busca da resposta, Ângelo percebe a figura de Leonora, "um ser espiritual que ele não sabe ser real ou apenas um componente do seu mundo dos sonhos", completa.
"Ela oferece a oportunidade de ele entrar na sua grande jornada, para, juntos, percorrerem sete mundos diferentes, ambientados nas culturas hindu, grega, celta, nórdica, asteca, japonesa, iorubá e egípcia, encontrando deuses da música de todas essas mitologias para que Ângelo possa compor a Música do Universo", explica.
Para conferir um pouco de como foi o processo criativo das autoras, falei, por e-mail, com a Larissa Dias. Confira o bate-papo abaixo.
1) Como surgiu a ideia do livro, já que ele foi escrito a "seis mãos"? A pandemia impactou, de alguma forma?
Sou uma pessoa muito ativa e quando a pandemia começou minha atividade dobrou, porém, agora apenas digitalmente. Iniciei um tortuoso trajeto no meu mundo interno e esse foi o grande motivo para escrever o livro. Também tive inúmeras conversas com amigos da área artística e o livro foi a forma como encontrei de dividir todo o conhecimento que estava adquirindo, principalmente vindo de um instigante projeto chamado “Imagem Musical Art”, capitaneado por Edgard de Brito.
Além disso, decidi construir o conto com base na teoria da Jornada do Herói, trazida pelo mitólogo Joseph Campbell, que identificou um “roteiro” pelo qual os heróis de todas as mitologias passam, divididos em 12 passos e por isso o conto tem 12 partes. Quando acabei o conto, percebi que ele tinha um potencial maior, então, decidi destrinchar seus aspectos curativos e, para isso, iria usar da mitologia, da psicologia e da música. Aprendi com o tempo que as parcerias eram um caminho muito próspero para todas as partes e, por isso, convidei amigas queridas da área da psicologia (Angela) e da música (Érica) para que elas trouxessem um pouco de sua sabedoria para iluminar ainda mais o universo de Ângelo. E o resultado foi impressionante para nós três!
2) Qual o papel da música na mitologia? E da mitologia na música?
Acredito que a música sempre foi importante para a mitologia e acho que isso está demonstrado principalmente na aparecimento dessas divindades nas histórias mais famosas: As musas gregas, que aparecem no conto, são inspiração artística até hoje, pois qual músico ou pintor nunca fez sua arte para uma Musa? Orfeu, por exemplo é um conhecido personagem que inclusive já foi citado em óperas famosas e uma delas foi simplesmente a primeira ópera que surgiu para a humanidade: L´Orfeu, do compositor Monteverdi.
Além disso, outras divindades como Taliesin, o bardo celta das palavras cantadas, trazem esta atmosfera mágica que envolvia os antigos músicos quando cantavam para os grandes reis e rainhas celtas. E quem nunca ouviu falar de Thoth, o deus da sabedoria dos egípcios e o grande inventor de muitas coisas, inclusive da música? Deste modo, a música sempre esteve presente na mitologia, pois ela faz parte da essência da alma humana e é exatamente isso que as histórias mitológicas revelam: a nossa essência.
Quanto a importância da mitologia na música, gostaria de citar uma parte do livro, onde encontrei o grande antropólogo Claude Lévi-Strauss falando exatamente sobre isso: ele diz que a mitologia morreu e a música substituiu seu legado. Claro que esta frase esta um pouco fora do contexto original, pois ele queria dizer que a música tinha a mesma capacidade de ativar no ser humano processos sublimes e sagrados, estados de consciência únicos e repletos de uma unidade integrativa de nós com o todo, assim como a mitologia.
Assim, a mitologia pode ter dado para a música motivos eternos, como aparecem nas óperas de Richard Wagner, no ciclo do Anel dos Nibelungos e outras, onde a mitologia nórdica é destrinchada de uma maneira quase perfeita. Eu mesma já usei em um trabalho acadêmico uma versão de Wagner, em vez de uma versão mitológica original destas histórias, porque ela [a obra de Wagner] é muito mais envolvente!
Eu gosto de imaginar que, quando os deuses criaram no início do universo tudo que existe no mundo, lá estava a música. E a música, para agradecer seu nascimento, cantou a mitologia para que todos pudessem saber dela.
3) Seu trabalho como psicoterapeuta contribuiu, de alguma forma, na construção do livro? Por quê?
Sim, contribuiu muito. O trabalho da psicoterapia e de orientação profissional e de carreira atua com histórias de vida. Ver que a mesma história se repete para todos nós foi um dos motivos que me fez perceber que o livro poderia ser importante para as pessoas. Lançamos oficialmente o livro no dia 15 de novembro na Martins Fontes (SP), mas já recebemos ótimos retornos sobre processos transformacionais que as pessoas estão tendo ao identificar suas histórias com a história de Ângelo. Isso não tem preço, pois me diz que fizemos a coisa certa!
4) Vocês deve ter se inspirado em outros autores para escrever o livro, pode citar alguns?
Particularmente, eu tenho três pilares que sigo na minha vida e na minha carreira. Acredito que as demais autoras também tenham os dela, mas no meu caso são: Joseph Campbell, um mitólogo norte-americano que amava a música e a mitologia, cujo olho brilhava quando contava uma história, pois parecia que ele a vivia enquanto a contava; Carl Gustav Jung, um psicoterapeuta suíço incrível que desenvolveu inúmeras teorias revolucionárias e sempre usava todas as formas de arte nos seus tratamentos, pois sabia do inestimável valor que elas tinham; e George Ivanovich Gurdjieff, um filósofo e místico armênio, o único que chamo de mestre na minha vida, e que fez um grande trabalho em pesquisas da evolução possível do homem e, para isso, usou também a música e dança, desenvolvendo de modo espetacular, uma música clássica curativa e de extrema sabedoria. Além destes, inúmeros autores da área da música trouxeram suas brilhantes influências para o livro, como R. Tagore, um poeta hindu, José Miguel Wisnik, músico, compositor e ensaísta brasileiro, e John Cage, um escritor e compositor norte-americano.
5) Quem não conhece muito de mitologia, deve começar por qual obra, na sua opinião?
Acredito que a mitologia, como qualquer outra ciência, precisa ser tratada de modo simples (não digo simplório, mas simples), para que qualquer pessoa possa compreender. Quem faz isso muito bem é Joseph Campbell, já citado. Ele era professor e acreditava que todas as pessoas precisavam compreender a importância da mitologia. Por isso, o seu livro “O Poder do Mito” é uma ótima linha de acesso ao mundo incrível da mitologia. Procuramos fazer o mesmo que Campbell, deixando a música, a psicologia e o mito de fácil acesso, e ,por isso, recomendo também nosso livro (risos).
Caso a pessoa não queira começar com um livro, pode também ler algumas das seções da Revista Eletrônica Mitologia Aberta, uma revista gratuita e colaborativa sobre mitologia e uma das minhas mais queridas criações!
6) Para você, qual a "música do universo"?
A música do meu universo é composta de inúmeras canções, pois a diversidade faz parte da minha vida. Mas se um dia tocassem “A Música do Universo da Larissa Dias” ela com certeza seria uma ópera rock, em que determinado momento as pessoas sairiam dançando (sim, como nos filmes indianos de Bollywood) buscando alcançar sorrisos do público. Acho que com isso, posso dizer que minha alma sorriria também.
Se interessou pelo livro? Acesse o link e adquira um exemplar! Para mais informações sobre a revista Mitologia Aberta, visite a página do Facebook.